27.5.15

«Escrever leve, facilmente digerível, interessante e peculiar. Como um sopro de pó de talco ou o flutuar de um longo vestido azul. Se pretender incidir, escolher a ironia elegante, se pretender o afago ao ego, palmilhar léguas acenando. No caso concreto, aconselho a simplicidade do retrato e a singularidade da profissão. De momento, registo bastante aceitável.»

Apareceu esta tarde na velha caixa do correio, embutida no portão de ferro. Dentro de um envelope branco, sem timbre, remetente nem ao cuidado, em papel grosso de qualidade, as palavras desenhadas a lápis de carvão. A costureira agradece mentalmente semelhante preocupação. Arrisca uma interpretação, enquanto inspira a mensagem. Ainda é possível sentir o rasto da tangerina, a folha do limão, talvez hortelã ou um traço a musgo, a madeira húmida e o almíscar pulsante.