23.6.15

Parece um caso típico de soberba encoberta, coisa de fraca autoestima em criança, talvez uma puberdade aflita, entre o acne bexigoso e a masturbação ineficaz. A verdade é que não há mão de senhora ou senhorita que ele não beije, encantando-as a deleite, enquanto lhes elogia a frescura da pele, na sua voz embargada. Consola-se, numa eterna necessidade de lhes agradar, de lhes saber os batimentos mais acelerados por arte sua. Aos cavalheiros não mostra má cara, mas arrepia caminho na conversa. Remata sempre com um artístico encolher de ombros, escusa-se ao tema futebolístico e cita amiúde Eça ou Camilo, para ajeitar alguma opinião menos palavrosa. No café, a D. Amélia, tremelicante, distingue-o no tratamento e insiste na fórmula já gasta, Sr. Doutor, que gosto em vê-lo!, enquanto ajeita a permanente e o avental. Fá-lo com tal graciosidade nos gestos e candura na voz, que nem mesmo o esposo de quase quatro décadas, acompanhando alguma aguardente velha, numa das mesas mais próximas do balcão, lhe pede o decoro que se espera de uma mulher casada. Nas mesas circundantes, dos rostos antes moles e apáticos, florescem agora sorrisos abertos e olhos ansiosos. Todas querem ser a sua menina, a primeira no elogio, definindo-se desta forma a hierarquia no roseiral para o resto do dia.