22.7.15

Não se fala de outra coisa na vila, o filho da D. Maria Zé engravidou a namorada de Lisboa. Foi um ai Jesus, um Deus nos acuda, que ainda andam os dois a estudar, ele no mestrado em Gestão e ela, já empregada a meio tempo na recepção de um consultório, a ver se acaba o curso de dentista. Bem se tentou que ela fosse abortar, já que a coisa se tinha dado por descuido, mistura na medicação, não havendo desejo algum em fraldas e biberons, mas a rapariga fincou o pé e disse que não. Do namoro só já a lembrança vaga, agora é uma guerra constante, discute-se a pensão de alimentos, trocam-se acusações, aponta-se o dedo. D. Maria Zé, desempregada há dois anos da fabrica do calçado, diz que não se mete mais, eles são adultos, que se entendam. Mas o rosto, envelhecido pelos dias cinzentos de chumbo e miséria, não consegue esconder a tristeza. O que será daquela criança?