27.12.15

O joelho tinha começado a doer e D. Lurdes avançava devagar. Ia a meio do corredor, quando lhe chegou a voz alterada da amiga, percebeu que D. Fátinha estava exaltada. Automaticamente decidiu virar costas à rota traçada, era um abuso, entrar assim pela intimidade das pessoas, onde tinha ela a cabeça, para não ter pedido à Marianinha que avisasse a mãe? Ia esperar na sala. Mal deu o primeiro passo em retaguarda, ouviu o grito: Mentiroso! Abusador! Estancou a passada e ficou sem saber o que fazer. Não queria acreditar, então afinal era verdade? e agora? avança? recua? deixa-se ficar ali e ouve o resto? Ai valha-me Nosso Senhor! Aflita nas suas preces, D. Lurdes decide voltar ao rés-do-chão. Sem saber ao certo o que fazer, mal acaba de descer as escadas, abre a porta da rua e sai de rompante. Atónita, de olhos demasiado abertos, regressa a casa o mais rápido que pode. As dores no joelho crescem como labaredas, ao virar a última esquina, não consegue evitar as lágrimas. Já à porta de casa, não aguenta mais e cai no chão de terra fofa do jardim e chora convulsivamente. Alguma coisa rebentou dentro de si.  


4 comentários:

  1. gosto e espero continuação :) bom dia

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. e haverá incentivo maior à continuação, do que aquele que vem dos leitores?

      :) boa tarde, Manel.

      Eliminar
  2. Há verdades que doem mais do que joelhos doentes!

    Beijos, Costureira. :)

    ResponderEliminar