15.4.21

 -- Ai que putedo, senhor Alfredo, assobia a Lurdes, enquanto ajeita a máscara no nariz, que não há maneira de se habituar àquilo a tapar-lhe a cara toda. Parece que até lhe falta o ar.

Carlota não responde, continua a olhar fixamente para a mulher da minissaia, cabelo arranjado e sapatos altos, que se dirige em passos largos para o carro parado no recanto mais distante do parque de estacionamento.

-- Tu queres ver que a porca vai fornicar cu'ele ali... Ai que putedo. - Lurdes insiste, é palavrosa, sempre foi, o marido passava a vida a queixar-se da língua de trapo da mulher.

-- Não m'acredito, tu achas?... Vamos lá ver, anda. - Carlota parecia cão de caça, pisteiro, focinho aguçado, os olhos perscrutando. A outra ri-se.

-- Vamos lá, 'tão, mas sem dar nas vistas, que eu quero apanhá-la cu'a boca na botija...

-- É mas é na gaita do gajo, atalha Carlota, corada da tirada brejeira. Sente um formigueiro no baixo-ventre. Riem-se as duas. Dão o braço uma na outra e dirigem-se ao volvo escuro.


Sem comentários:

Enviar um comentário